Expectativas vs. Realidade: O Valor do Desapego
Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.
Este trecho é do romance Ciranda de Pedra, escrito em 1954 pela notável Lygia Fagundes Telles. Conhecida como “a dama da literatura brasileira”, Lygia faleceu em 2022 aos 103 anos.
Explorando profundamente o universo psicológico de seus personagens, Lygia refletia sobre as feridas da alma humana.
Ao dizer que é preciso “amar o inútil”, a autora nos convida a buscar o prazer de criar e viver sem esperar recompensas imediatas ou utilitárias. A imagem de criar pombos sem pensar em comê-los e plantar roseiras sem esperar colher as rosas nos faz refletir sobre o valor da criação em si, como um fim em si mesma.
Você se lembra da última vez que fez algo sem esperar nada em troca, seja no trabalho, uma demonstração de carinho ou um pedido de desculpas? Se refletirmos, percebemos que a decepção está ligada à expectativa em relação ao nosso objetivo.
Escrever pelo simples prazer de escrever já é gratificante. Da mesma forma, um pedido de desculpas sincero, mesmo que não aceito, pode trazer paz ao coração.
Isso não significa que não devemos traçar objetivos ou sonhar. Significa que, quando focamos apenas na recompensa, perdemos de vista o propósito e a beleza do caminho.
Plante sem pensar em colher, escreva sem pensar em publicar e dê sem esperar receber. Pode parecer ingenuidade para alguns, mas, ao final do dia, cada um é o que dá e não o que recebe.