Família é quem a gente escolhe
Ricardo e Tereza casaram-se quando ainda eram muito jovens. Tereza tinha uma família enorme — dessas de propaganda de margarina —, que faz questão de reunir e agregar até quem não é de sangue.
- E como não poderia ser diferente… Ricardo também virou parte da família.
Quando se casaram, Tereza tinha acabado de passar no concurso do Ministério Público, por isso vivia indo e voltando da comarca onde trabalhava. A rotina era cansativa, mas chegar em casa e encontrar seu marido fazia tudo valer a pena.
Em uma dessas idas e vindas… Tereza sofreu um acidente de carro e acabou falecendo.
Desolado, Ricardo resolveu se mudar e recomeçar a vida em um lugar novo. Sabia que as memórias o acompanhariam, mas acreditava que novos ares acelerariam a cura das feridas de seu coração.
Alguns anos depois… Conheceu Ana. Os dois se apaixonaram e não demoraram muito para subirem ao altar. Tiveram três filhas — todas com o sorriso largo da mãe —, que conseguiram devolver o brilho aos olhos de Ricardo.
Eles eram muito unidos, mas como os avós das meninas moravam em cidades diferentes, os natais eram sempre só “os de casa” — não tinha aquela função dos tios na cozinha, nem aquele tanto de primos reunidos em volta da árvore.
- Maricota — a filha mais velha — era muito próxima dos pais, mas sempre sonhou em ter aquela “casa de vó” para almoçar aos domingos — do jeitinho que via na televisão.
Quando Maricota fez 12 anos, Ricardo resolveu contar para ela e suas irmãs sobre sua história do passado. Disse que guardava muito carinho pela família de Tereza e gostaria de apresentar as meninas para sua antiga sogra, dona Hélvia.
Sem saber o que esperar, elas foram para Belo Horizonte conhecê-la. Dona Hélvia ficou muito feliz em conversar com as três pequenas mas, especialmente com Maricota, a ligação foi instantânea.
Dizem que o ápice da conexão é quando sequer tocaram na gente, e ainda assim, nos sentimos tocados.
No caso, bastou um olhar para que dona Hélvia e Maricota soubessem que aquele encontro seria especial.
Depois desse dia, continuaram mantendo contato. Maricota sempre ligava para dona Hélvia, que ficava toda emocionada com o cuidado — além de adorar as horas que passavam no telefone.
- Em um feriado qualquer, ela convidou a pequena — que já não era tão pequena assim —, para conhecer o resto da família.
Chegando lá, Maricota viu a “casa de vó” que sempre sonhou. Com seu sorriso doce, encantou todos os filhos e netos, que sentiram a casa iluminar com a chegada da nova integrante da família.
O contato foi ficando cada vez mais frequente e todos da casa já apresentavam a Mari como neta, sobrinha ou prima — e quem via de fora, nem imaginava que o laço não era de sangue.
- Quando Maricota entrou no ensino médio, dona Hélvia a convidou para morar com ela.
Pensando na empolgação de estar perto da família que tanto admirava — e na oportunidade de estudar na capital —, Maricota aceitou.
Durante esse tempo, ela teve a oportunidade de viver e aprender valores que muitos passam a vida inteira sem encontrar.
Com o tio Neto e o tio Elísio, aprendeu que devemos manter quem a gente ama sempre por perto. Com a tia Cláudia, aprendeu como agradar os outros através dos detalhes — e a fazer uma linda mesa de jantar. Com sua prima Lelê, aprendeu a viver de um jeito mais leve e com os primos Cláudio e Arthur, viu que dá pra curtir a vida sem esquecer das responsabilidades.
- Por último — mas não menos importante —, com a vovó Hélvia, Maricota aprendeu que nunca medimos esforços para atender aos desejos de quem amamos.
Há alguns anos, ela voltou a morar com a mãe e as irmãs, mas continua mantendo contato com todos da sua “família emprestada”.
Não importa onde esteja, Maricota sempre vai sentir que um pedacinho seu não está perto, mas este é o preço de ter sido abençoada com uma família de sangue e outra de alma.
No dia 25, Mari não vai estar na casa da vovó Hélvia, mas queria contar essa história como forma de fazer-se presente em seu Natal. Ela pode até ficar longe, mas o afeto que construíram estará sempre aquecendo o seu coração.