Natal: papai Noel existe
Na casa do seu Jorge, o dia 25 de dezembro era o mais esperado do ano. Ele, dona Janaína, e suas três filhas, já começavam os preparativos do Natal quando dava o início do mês.
Seu Jorge era metalúrgico, e dona Janaína, cabeleireira. Nunca deixaram faltar comida em casa, mas não sobrava muito para extravagâncias.
Eles se conheceram em 1960, e casaram-se no mesmo ano.
Hoje em dia, é comum escutar que precisa de um “test-drive” pra ver se o casamento vai pra frente, mas os dois pensam que isso é bobagem.
Seu Jorge conta que paquerou muito quando era jovem. Porém, desde que viu a Jana, na pracinha perto da sua casa, não teve dúvidas: sabia que ela seria sua esposa.
Marcaram o casamento em um dia quente de fevereiro, e o pôr do sol estava tão bonito que parecia encomendado. Depois da cerimônia, todos os convidados falaram que aquela união seria “abençoada por Deus”.
Na época, a mãe da Janaína não sabia, mas ela entrou no altar esperando a Maria Luiza, sua primeira filha.
Apesar do vestido ter escondido a barriga, eles tiveram que voltar mais cedo da lua de mel. A Janaína passou mal a viagem inteira, e chegou com enxoval preparado pra receber sua primogênita.
Dois anos depois da Maria Luiza, chegou a Cecília. Seu Jorge queria muito um menino, mas viu que seu destino seria viver cercado de mulheres quando Janaína engravidou da terceira, a Dora.
A vida era simples, mas muito feliz. Enquanto alguns sofrem pelo que falta, a Jana e o Jorge sempre agradeceram por terem tanto: companheirismo, amor, e três filhas com saúde.
É… Maria Luiza, Cecília e Dora traziam muita alegria pra casa. Porém, pra não dizer que filho só rende sorriso, três meninas também davam muita despesa.
Para conseguirem manter as contas da casa em dia, fizeram um combinado: presente bom era só no Natal.
Como seu Jorge era um homem de palavra, ele trabalhava o ano inteiro para que as meninas ganhassem exatamente o que quisessem na manhã do dia 25.
Assim, toda véspera de Natal era a mesma história: de madrugada, Seu Jorge colocava os presentes na árvore. Quando amanhecia, ele acordava as meninas
— e dizia que o “bom velhinho” tinha passado por lá à noite.
Há quem diga que esse esforço todo é bobagem. Entretanto, seu Jorge e dona Janaína gostavam de alimentar essa inocência. Afinal, qual a graça de viver sempre no preto e branco?
Quando a Maria Luiza tinha 6 anos, o Natal ainda tinha muito gostinho de magia. Ela estava doida pra ganhar a boneca que tinha pedido, mas pensar no Papai Noel era a parte mais gostosa da data.
Naquele ano em específico, a ansiedade veio forte. Na madrugada do dia 24, então, ela resolveu dar um pulinho na cozinha.
Antes de chegar na sala, a Maria viu o seu pai colocando os presentes na árvore. Em vez de ir até lá pra entender o que estava acontecendo, ela sacou tudo na hora: o Papai Noel não existia.
Para a maioria das crianças, esse instante é uma facada no peito. Porém, pra Malu, o momento foi de gratidão.
Até hoje, ela não sabe explicar esse lapso de maturidade, mas se lembra de voltar pra cama e dormir normalmente.
No dia seguinte, seu Jorge foi acordar as meninas. As três desceram naquela animação de sempre, e foram correndo rasgar os embrulhos dos presentes.
A Maria Luiza abriu o seu pacote, e viu a boneca que tanto queria ganhar. Ela olhou nos olhos do seu pai e, por incrível que pareça, só conseguiu agradecer: o “Papai Noel” realmente existia.