O que uma mudança nos ensina…
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
O poema é de autoria de Luís de Camões, escritor português que é apontado como um dos maiores representantes da literatura mundial.
- Revelando grande sensibilidade sobre os dramas humanos, ele sempre gostou de escrever sobre questões existenciais.
No poema escolhido, ele aborda uma verdade universal, mas que não deixa de ser uma questão difícil: “muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança”.
Tá, mas a gente bem sabe que nenhuma transformação acontece da noite pro dia. E aí é que está a parte mais difícil de ser encarada: antes de qualquer mudança, vem um vazio.
Falando em vazio, em um episódio do podcast “Para dar nome às coisas”, a Natália Sousa comentou que, quando ela era criança, a sua mãe vivia trocando os móveis da sua casa de lugar. e lembre que a minha fazia mesma coisa.
- E como elas não esbanjavam dinheiro, quando um sofá saía da sala, era preciso esperar até comprar um novo.
Mas, mesmo quando ela já sabia que o sofá iria chegar, ter que assistir televisão no chão era difícil. Isso porque, em espaços físicos ou na vida, os vazios que antecedem a mudança são sempre desconfortantes.
Mas pensa só, esperar pra comprar um sofá novo te dá mais tempo pra escolher o melhor estofado. Ou pra trocar o sofá por uma poltrona. Ou pra decidir que aquele espaço fica até mais bonito vazio.
Levando o exemplo pra vida, não tem como absorver o novo sem se esvaziar um pouco. Seja de uma crença, de um hábito, de um relacionamento ou de qualquer outra certeza que te prenda.
- Ainda que a gente passe a vida inteira buscando a completude, a verdade é que só o vazio direciona o nosso caminho.
Mas isso não significa que você precise trocar de emprego ou de relacionamento. Voltando pro exemplo da mãe da Natalia, o apartamento sempre foi o mesmo — mas era a mudança que o deixava vivo.