O melhor presente

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Gean Ramos
07 de August de 2022

Em uma manhã fria de domingo, os pais da Bruna chegaram em casa com uma surpresa. Ela viu uma sacola cheia de brinquedos, mas logo entendeu que a novidade não era essa.

Encarando o embrulho, eles lhe disseram que aquele era um presente da Bia e que a casa tinha ficado mais cheia.

Bruna olhou pra sua mãe e no lugar da barriga enorme que ela ganhara nos últimos meses, estava a Beatriz: uma pequena criatura, com olhos doces e curiosos.

  • Como dizia Hemingway_, de todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o homem do que as crianças?_

A Bruna não tinha nem 3 anos, mas aprendeu a cuidar da Bia igual gente grande. Ela trocava suas fraldas, dava bronca e escolhia seus vestidos como se estivesse brincando de boneca.

Os anos foram passando, elas foram crescendo e, como não poderia deixar de ser, vieram as brigas.

  • Seus pais tentaram de tudo para melhorar a situação: cortaram televisão, chocolate e até viagem pro sítio.

Nenhum castigo funcionou, até que eles proibiram as duas de conversar. Nessa tentativa despretensiosa, acabaram acertando em cheio: elas não conseguiram ficar longe uma da outra.

Depois do susto, a Bruna descobriu que aquela manhã fria de domingo tinha sido seu dia de sorte — junto com o embrulho de brinquedos, ganhou não só uma irmã, mas sua melhor amiga.

Assim, elas atravessaram a adolescência juntas. Compartilharam as notas do colégio, o primeiro beijo, as turmas de amigos e todas as delícias e dificuldades de encontrarem seu lugar no mundo.

  • Porém, quando chegou a hora de fazer vestibular… Elas se separaram.

A Bruna foi pra Minas Gerais e a Bia, pra Santa Catarina. Com dois estados de distância, a presença física ficou um pouco mais difícil, mas o vínculo e a sintonia permaneceram.

Perto ou longe, elas reviram os olhos nas mesmas situações. Choram de raiva e dão gargalhada com a mesma intensidade e não precisam falar nada pra se entenderem: um olhar basta.

  • Por essas e outras, as duas dizem que são almas gêmeas, mas estão longe de serem iguais. Aliás, é na desarmonia que elas se complementam.

Enquanto a Bruna chega no aeroporto com 3h de antecedência, a Bia perde o voo, conhece alguém e muda o destino — afinal, como tem tatuado, “la vida es el arte del encuentro”.

No carro da Bia, você encontra tudo: skate, barraca e roupa de surf. Segundo a Bruna, o porta-malas cheio não é excesso de preparação, mas uma demonstração de coragem: se der vontade, ela só vai.

  • Algumas pessoas não sabem o que é depositar a felicidade em alguém, mas, para a Bruna, é simples: quando a Bia está feliz, ela fica feliz também.

Hoje, nessa manhã fria de domingo, faz 24 anos que a Bia chegou. Em cidades diferentes, nem sempre dá pra comemorar junto, mas elas aprenderam que isso pouco importa: a distância não deixa longe o que está dentro.

Contar essa história foi o jeito que a Bruna encontrou de agradecer a Bia por ter sido o melhor presente que ela já ganhou, e por nunca deixá-la esquecer da criança que ainda existe nela.

Quem nasceu com a mesma sorte, sabe que se por acaso perder o rumo, é fácil voltar para o eixo: ter um irmão é ter sua essência guardada em outro coração.

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