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Gean Ramos

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O amor vale a pena?

Quando pequena, a Karol não tinha muitos amigos. Fazia parte da turminha do colégio, mas não tinha muita sintonia com ninguém. Apesar de ser convidada para todas as festinhas de aniversário, cresceu como uma criança sozinha.

  • Na adolescência, o ciclo de amizades aumentou, mas, quando o assunto era identificação, ela ainda se sentia um peixe fora d’água.

Quando foi para o terceiro ano, a Karol conheceu o Pedro. Ele adorava sair de galera, mas também não tinha ninguém para chamar de “melhor amigo”. Os dois acabaram se aproximando e, entre um exercício de matemática e um salgado na cantina, descobriram que tinham muito em comum.

Eles adoravam assistir seriado e comer pipoca de panela. Gostavam de biologia e dividiam a mesma implicância com o professor de física. Morriam de medo de altura e sonhavam em conhecer o mundo inteiro.

Além dessas coincidências bobas, sentiam-se à vontade para conversar sobre tudo. Na verdade, o que os aproximava não eram os pontos em comum, mas a certeza de uma amizade leve, sincera e sem nenhum julgamento.

  • Diferente da maioria dos adolescentes daquela época, a Karol não enxergava o Pedro como um par romântico — e vice-versa.

Os colegas que viam de fora, desconfiavam que aquilo ali não poderia ser só amizade, mas eles não ligavam: sabiam que aquela conexão era pra poucos.

Cresceram muito juntos e o olhar de admiração que o Pedro tinha sobre a Karol, a ensinou que só valeria a pena ter alguém que fosse capaz de amá-la por completo — e acender ainda mais o seu brilho.

  • Ao entrar na faculdade, os dois escolheram rumos diferentes e a Karol acabou conhecendo o Fred.

Vivendo uma daquelas paixões arrebatadoras, eles logo começaram a namorar. Sem perceber, a Karol foi mergulhando de cabeça no relacionamento, esquecendo que o amor, à primeira vista, pode cegar.

O Fred não aceitava a amizade da Karol com o Pedro, e fez de tudo para que eles se afastassem. Por mais que doesse, o Pedro só queria que sua amiga fosse feliz, por isso, acabou indo embora.

A Karol continuava brilhando, mas o Fred queria trancar sua luz dentro de um quarto — para não ter que dividir com mais ninguém. Pouco a pouco, ela foi se apagando, até olhar no espelho e não encontrar mais aquela menina que cultivava tantos sonhos.

  • Depois de 5 anos de muito aperto no peito e falta de sono, a Karol aprendeu que aquilo ali não era amor e conseguiu se afastar.

Pensou que estava sozinha, mas adivinha quem a recebeu de braços abertos, para tomar um café e chorar a noite toda? Isso mesmo, o Pedro — com aquele mesmo aconchego de 5 anos atrás.

Parafraseando Marguerite Yourcenar, a amizade é, acima de tudo, certeza – e é isso que a distingue do amor.

Karol temia ter perdido o irmão que a vida tinha lhe dado, mas o abraço foi suficiente para deixar o medo de lado. Mesmo após todo aquele tempo longe, as piadas continuavam as mesmas.

  • A preocupação, os conselhos e, principalmente, o amor, permaneceram intactos.

Naquele momento, a Karol se deu conta de que não há nada mais importante do que o amor. Seja ele romântico, paterno ou fraterno, o amor é o que faz a vida valer a pena — e nenhum amor é real se tenta te afastar de outros amores.