Amor nunca perdido
Quando a Amanda tinha 4 anos, ela ganhou de presente uma boneca um pouco diferente das outras: Milena, sua irmã mais nova.
A ideia de ter uma irmã nunca lhe pareceu ruim. Na verdade, ela era muito nova para entender o que seria dividir o seu espaço com outra pessoa, mas as dificuldades foram surgindo.
- Primeiro foi o quarto, depois as bonecas e, logo em seguida, até o pote de sorvete não dava pra tomar sozinha.
Mesmo crescendo na mesma família, Amanda e Milena eram como a água e o óleo. As duas tinham personalidades completamente diferentes, e não conseguiam se conectar de jeito nenhum.
Os pais faziam o possível para que elas fossem amigas-irmãs, mas a relação das duas se limitava em discutir sobre a louça suja, ou dar “feliz aniversário” e “feliz Natal” nessas datas protocolares.
A Amanda conta que algumas tradições eram mantidas. Todo dezembro, elas montavam a árvore de Natal juntas, e o primeiro pedaço de bolo no aniversário era sempre uma da outra.
- Apesar de não serem amigas, as duas também tinham um senso de proteção muito grande — “ninguém pode falar mal da minha irmã, só eu”.
A Amanda nunca vai esquecer do dia em que a Milena ficou sabendo que ela estava sofrendo bullying na escola. Não falou nada em casa, mas virou uma fera na hora do recreio.
As duas, então, acompanhavam a vida uma da outra como quem assiste um espetáculo da platéia. Apesar de não dividirem o palco, estavam sempre torcendo de longe.
Houve uma ocasião, porém, que a “guerra fria” esquentou. Depois de uma briga feia, a reclamação sobre a louça suja se transformou em um silêncio eterno — que incomodava mais do que qualquer ruído.
- Se calar, às vezes, faz parte. Mas, roubando as palavras de Sófocles, sabemos que “há algo de ameaçador num silêncio muito prologando”.
Vivendo esse incômodo disfarçado de indiferença, a Amanda foi para outra cidade sem nem contar pra Milena. Inclusive, escolheu um dia que a sua irmã não estava em casa para fazer a mudança.
Nesse meio tempo, a Amanda terminou um longo relacionamento de uma forma meio traumática. A Milena ficou sabendo através da sua mãe, mas rezou muito pela irmã.
Quando voltou para visitar a família, a Amanda encontrou a caçula na porta. Depois de 1 ano sem conversarem, não teve pedido de desculpas — só um abraço que mostrou que o perdão já estava no coração.
Logo em seguida, elas se adicionaram nas redes sociais e começaram a conversar pelo WhatsApp. Hoje, já compartilham todas as dores que sofreram separadas, e descobriram que são as melhores companheiras de viagem.
- Quando a Amanda vai receber a Milena em casa, ela prepara os pratos preferidos da irmã, e fica ansiosa pela fofoca infinita.
Só depois de sofrerem com a distância e a solidão que as duas descobriram que não precisavam ir longe para buscar apoio — bastava mudar o olhar para quem sempre esteve por perto.
Elas continuam como o óleo e a água, mas não julgam mais as escolhas uma da outra. Com a maturidade, aprenderam que ter razão pouco importa. Bom mesmo é ver quem a gente ama feliz